quinta-feira, 17 de junho de 2021

Jesus Cristo, a cura e a libertação que todo pecador precisa


Comumente, vejo nas redes sociais de alguns queridos irmãos em Cristo, e na de simpatizantes do Evangelho do nosso Senhor Jesus – ainda pouco familiarizados com o que a Bíblia realmente ensina acerca de determinados temas – mensagens fervorosas quanto à ação do poder de Deus, no tocante à cura e libertação de possíveis influências de espíritos malignos em nossa vida.

Sim, infelizmente isso acontece, e é mais real do que pode supor a nossa vã e cética filosofia. E mesmo os incrédulos hão de admitir que, vez ou outra, se peguem envoltos a pensamentos do tipo “Algo está acima da minha compreensão”. O que nos leva, inevitavelmente, a lembrar do famoso dito popular castelhano, provavelmente de origem galega: “No creo en brujas, pero que las hay, las hay”. 

De fato, o assunto não apenas é pertinente como a sua preocupação é sempre urgente. E é por isso que quero deixar aqui a minha humilde e sucinta contribuição a respeito desse tema, começando com uma simples pergunta. Você está convencido ou tem uma leve desconfiança de que precisa ser liberto da ação de forças do mal em sua vida? Se sim, vamos juntos verificarmos um pouco do que a Bíblia nos ensina a esse respeito?

Para começar, vamos ao básico, porém mais importante ensino de todos: arrependa-se de seus pecados e entregue sua vida a Jesus Cristo, em quem, pela graça (favor imerecido), nós encontramos a redenção e a salvação para a vida eterna (Atos 16:31). É que, de acordo com as Sagradas Escrituras, regra de fé e prática de todo cristão verdadeiro, é impossível àquele que entregou verdadeiramente a sua vida ao Senhor – tendo, de fato, nascido de novo, da água e do Espírito (Jo 3.3-8) –, ser alvo de qualquer influência oriunda de feitiço, bruxaria, mau agouro ou coisa semelhante.

 Não estou dizendo que o crente em Cristo está livre das artimanhas do maligno; pelo contrário. Os cristãos verdadeiros sempre serão alvo das investidas e influência dos demônios; a Bíblia é muito clara quanto a essa verdade, que nos foi categoricamente ensinada pelo próprio Senhor Jesus. Mas a Palavra de Deus é também muito esclarecedora quando nos ensina, de forma igualmente veemente, que é por meio de uma vida consagrada a Deus (piedosa), pela renovação constante de nossa mente (Romanos 12:1-2), que recebemos do Senhor o poder para resistir às setas inflamadas do maligno e, principalmente, às concupiscências do nosso próprio coração (Tiago 1-14-15) que, devido à sua natureza pecadora, herdada de nosso primeiro pai, Adão, é desesperadamente corrupto (Jr 17:9-10).

 É por meio de um sincero relacionamento com Deus, proporcionado pelo estudo diário da Palavra, da oração e da comunhão – os três principais meios de graça que nos proporcionam o contínuo e necessário amadurecimento de nossa fé (2 Pedro 1.2-11) –, que somos revestidos da armadura de Deus, com a qual lutamos nessa incessante batalha espiritual da qual todos, sem exceção, fazemos parte, enquanto peregrinos neste mundo caído (Efésios 6:10-18). Até a volta do nosso Salvador, será assim.

 Que Deus nos dê graça para vivermos uma vida de contínua consagração ao Senhor, por meio da qual somos efetivamente revestidos da armadura que nos é concedida pelo Todo-poderoso e Soberano Deus, para sermos vitoriosos contra as ciladas dos inimigos de nossas almas.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Um culto completo




Sempre encontro dificuldade em utilizar palavras suficientemente adequadas para expressar a minha crescente alegria e imensa gratidão a Deus. E dessa vez não é diferente. Ter tido o privilégio de presenciar a cerimônia de batismo de uma grande amiga de infância, cuja intimidade me permitiu vê-la crescer e se tornar mulher, mãe e profissional, na mesma igreja que, há exatamente um ano, me acolheu e me aceitou oficialmente como um de seus membros, é algo que somente esse inefável Deus pode fazer. Ele sabe como nos maravilhar e fazer com que cada um de Seus filhos se sinta especialmente amado por Ele.

“Um filme deve ter passado pela sua cabeça”, questionou-me uma das irmãs, ao término das cerimônias por meio das quais Deus nos edificou profundamente naquela noite. “Você nem imagina!”, respondi, relatando-lhe que, enquanto essa querida amiga professava a sua fé no nosso Salvador e em tudo o que diz respeito ao seu novo nascimento em Cristo, meus olhos foram umedecidos pelas lembranças de toda uma vida, mas principalmente dos últimos 19 meses, nos quais Deus e sua maravilhosa graça salvadora foram o tema central de nossas incansáveis conversas.

Devo ressaltar que, embora a presença do Senhor em nossos cultos seja algo sempre notório para mim, a noite em questão foi um daqueles momentos nos quais o Senhor escolhe se revelar de forma especial à Sua igreja. E assim, vamos combinar, Ele facilita consideravelmente a nossa vida para que toda a honra e toda a glória sejam dadas exclusivamente a Ele. Vi a Sua regência divina na liturgia, no louvor, na ministração da Palavra – particularmente dirigida a crentes de longa data, a recém-convertidos, aos maduros na fé, às crianças espirituais, a simpatizantes e desavisados –, na celebração da Santa Ceia e nas cerimônias do batismo e de profissão de fé. Emocionei-me com cada “sim” professado.

E também confesso que, a cada pergunta feita aos novos membros, acerca das doutrinas essenciais e primordiais da fé cristã, eu também respondia, silenciosamente, e com tudo o que é inerente ao meu ser, com uma positividade ainda mais convicta do que as que proferi, em voz audível, na minha inesquecível vez. Sei como é estar diante de toda uma igreja da qual nossos corações anseiam fazer parte, muitas vezes motivados por respostas de orações dirigidas a um Deus que zela pela Sua Palavra. Foi exatamente assim comigo.

E, mais uma vez, e já não tenho mais como enumerar quantas, o Senhor confirmou, no meu coração e no meu entendimento, a certeza de que Ele me conduziu a uma igreja que, mesmo com as suas imperfeições, inerentes a tudo o que tem a participação de pecadores em processo de santificação, se esmera para trabalhar na obra de Deus conforme nos orienta a Sua Palavra. Isso faz uma diferença muito grande, enquanto buscamos, cada um, no ritmo conduzido pelo próprio Deus, com nossos erros e acertos, fraquezas e dificuldades, crescer na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

A segurança de fazer parte de uma igreja bíblica, e assevero, teologicamente reformada, me impulsiona a buscar continuamente mais conhecimento e a disseminar o que tenho aprendido, falando com convicção acerca do Evangelho àqueles que, assim como muitos de nós outrora, precisam desesperadamente da Vida que só pode ser encontrada em Jesus Cristo.

E ainda que, em muitos momentos dessa jornada, nos sintamos fracos e impotentes, ante a um mundo que, cada vez mais, repudia tudo o que se refere ao único e verdadeiro Deus e tenta incansavelmente abalar a nossa convicção, é na unidade da igreja que somos aperfeiçoados e encontramos o suporte necessário para buscarmos, diariamente, em um relacionamento genuíno com Cristo – por meio da oração, da leitura e estudo da Palavra e com ações de graças –, tudo o que precisamos para seguirmos perseverantes, pela fé salvadora, a corrida que nos é proposta, praticando as boas obras para as quais "Deus, de antemão, preparou para que andássemos nelas".

E da mesma forma que a chuva fertiliza a terra de justificados e de descrentes, Deus, em sua sabedoria soberana, providenciou que cada lágrima incontidamente derramada pela minha linda amiga  amolecesse, inadvertidamente, vários dos corações que ali se encontravam, entre membros e visitantes. E, certamente, a emoção que brotou sincera daquele coração recém-entregue a Jesus Cristo revigorou a fé de todos que, pela graça, têm tido a oportunidade, sempre ímpar, de contemplar o milagre mais impressionante que Deus tem realizado na constituição de Sua Igreja: a conversão daqueles que já nascem predestinados a glorificá-Lo e a usufruir, eternamente, da beleza de Sua natureza infinita.

Considerando todos os acontecimentos aqui sucintamente relatados, acredito, sinceramente, que só há uma palavra capaz de definir a experiência que tivemos naquela noite divina, na qual, como disse um dos nossos líderes, vivenciamos “um culto completo”: amor. O inexplicável amor de Deus!

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Enfim, em casa!



Gosto de tradição! Não como um simples apreço pelo convencional, mas por todo legado que, transmitido por Deus, nos liga a diferentes aspectos de Sua divindade, como a família, por exemplo, cuja essência é geralmente comparada, a grosso-modo, à Santíssima Trindade.

Creio que nunca me esquecerei da sensação de segurança que me envolvia, quando criança, por ter um pai, uma mãe e irmãos. Como era agradável a certeza da ligação biológica denunciada pelas evidências dos mesmos DNAs estampadas nas faces e comportamentos – reconhecimento tão importante no processo de construção da nossa identidade.

Embora, na adolescência, essa fase tão conflituosa de nossa vida, os momentos de alegria se alternassem com os de tristeza, o seio familiar era, para mim, um porto seguro, mesmo quando abalado pelas vicissitudes de nossas personalidades contaminadas pelo pecado que danificou a nossa originalidade.

A caravana dos anos passou e os aprendizados se acumularam, enquanto os cães ladravam. E, na interinidade entre passado e presente, minha mente fervia a procura de respostas para os porquês de nossa frágil e confusa existência. “De onde vim?”, “Para onde vou?”, eu questionava.

E, na intensidade dos anseios, figuravam Jesus e o amor, sentimento que sempre me movia. E, no decorrer dessa jornada, havia uma igreja, de tradição familiar, cuja fé professada por meus progenitores tinha por sobrenome “não praticante”. E nela eu praticava o que ainda era um esboço do que hoje creio, com lágrimas e experiências inesquecivelmente marcantes que, dia após dia, mostraram-se desprovidas do único conhecimento capaz de preencher o vazio inconsciente.

“Vamos ao mundo!” Despediu-se o coração entristecido e ainda esfomeado.  Sócrates, Aristóteles, Platão, Freud... Filosofia e psicologia na veia para remediar as feridas multiplicadas pelas dúvidas que insistiam em não cicatrizar. Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos... Ficções genialmente elaboradas para retratar a nossa humanidade moralmente doente, mas igualmente incapazes de elucidar o motivo de tamanha decadência. Ainda as aprecio; não sem moderação, certamente.

Sucessos, conquistas, derrotas e, ufa, o chamado eficaz. Graças à providência pré-estabelecida pelo Soberano, dessa vez, a voz do Todo-Poderoso não era mais um sussurro imperceptível ao entendimento, mas um rugido quebrantador, regenerando o coração com os golpes certeiros do arrependimento salvador. É linda a ação da Graça!

Vida nova; de volta à igreja! Dessa vez, guiada pelo derradeiro Mestre, que tem levado o meu entendimento a navegar pelas águas de uma fé paulatinamente constituída pelas infalíveis revelações contidas nas Sagradas Escrituras. Como sou grata! Até porque, lá estavam, novamente, as velhas dissonâncias entre as maravilhosas lições trazidas pelo Espírito Santo e as reverberações doutrinárias às quais eu estava exposta. Quanta incongruência!

Ah, mas a verdade que liberta só tem uma face, e essa lição aprendi desde cedo. O Deus soberano jamais trará confusão. Mas dependendo de por onde a fé trafega, é grande o risco de se perder pelo caminho da santificação. Há atalhos que supervalorizam determinadas experiências travestidas de dons – que sejam – tornando-as mais importantes do que a imutável e suficiente revelação que nos foi dada por Deus em Sua Palavra.

Ah, as experiências, tão importantes para o fortalecimento da fé quanto sorrateiramente capazes de nos desviar do que realmente nos transforma nos separados do Senhor. “Santifica-os na tua verdade; a tua Palavra é a verdade.”, rogou ao Pai o nosso justificador. Tenho visto que, quanto maior é o entretenimento da mente mais latente é o perigo de o espírito não sair do berçário espiritual. Muitos têm falecido vestidos em fraldas.

“Crescei na graça e no conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo”, exorta o apóstolo Pedro. Incontável, todavia, é o número dos que, na multidão dos que creem, se alimentam, diuturnamente, de doutrinas desprovidas dos nutrientes necessários para que a luz de Jesus, inclusa no farto pacote da graça, viceje e reluza através de suas vidas. O “corpo” de Cristo padece.

E no decorrer dos meses, a grama do vizinho, da qual eu me alimentava desde o princípio, me parecia cada vez mais saborosa e nutricionalmente verde do que a do campo no qual eu me encontrava. Aliás, graças a Deus, a busca pela verdade, nunca antes tão ávida em minha vida, vinha sendo divinamente suprida de forma enviesada. “Quão inescrutáveis são os Seus caminhos!”. O apóstolo Paulo foi um gênio!

Aos pés da Cruz, lágrimas, suor, oração e jejum. “Mostre-me o lugar!”, eu implorava. Aprendi, na prática, o que Tiago define em sua linda carta: Deus não nega sabedoria ao que, com fé, Lhe pede. Aprouve, então, a Deus, capacitar meus olhos para contemplar o caminho pelo qual, há meses, Ele já me conduzia, e me colocar, de forma magistral, como somente Ele pode fazer, no centro do entendimento de Sua maravilhosa graça.

Então ali, em uma igreja tradicionalmente cristã, corpo, alma e coração vivenciam, pela primeira vez em minha vida, a valiosa sensação que é experimentada pelos ombros que, após uma longa e exaustiva viagem, se livram de um peso equivalente a uma tonelada: alívio. “Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”, nos promete o Senhor, que não mente. Agora entendo!

Tradição, neste caso, é sinônima do zelo que o Senhor tem por sua igreja, edificada sob o alicerce de sua Palavra imutável e soberana, a qual ele resguardou por uma reforma realizada com Suas próprias mãos, por meio de homens iluminados, tochas inextinguíveis, que resgataram a sã doutrina das trevas que devoravam a Sua preciosa igreja. Que enredo!

E nisso aprendi que os anseios pelas respostas corretas para os questionamentos de uma alma que tem fome de Deus não podem ser nutridos por dogmas heréticos ou somente por experiências sobrenaturais que, em relação ao crescimento espiritual cristão, se mostram miseravelmente débeis. Isso me remete ao que o meu sábio pastor precisou cirurgicamente: “A teologia reformada é a que melhor define Deus à luz da Bíblia”. Contra fatos não há argumentos.

Hoje, mais confortável, segura e contente do que na época de minha infância, vejo minha identidade em Cristo ser conformada a partir da herança de Seu infinito amor e edificada sob o alicerce de uma doutrina puramente sadia. Um manjar para o meu espírito, no qual me deleito. Pela graça, mais uma vez, fui salva.

Ah, alegria que não cessa! Entendendo agora, de forma cada vez mais clara, o meu velho apreço pelas tradições divinamente instituídas. O significado de lar, no meu coração, ganhou ainda mais apreço, quando, pela graça, fui inserida na imensa família que Deus consagrou com o seu próprio sangue. E, em uma igreja historicamente reformada, tão certa quanto o meu Senhor Jesus Cristo vive, eu finalmente posso comemorar dizendo: “Enfim, em casa!”.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O valor do resgate



Deus é soberano! Desconfio, inclusive, que essa é a frase que mais pronunciei nos últimos meses. Ano de eleições, sabe como é. Houve um tempo, no entanto, em que o reconhecimento dessa absoluta verdade se tornou um desejo frustrado; uma busca sincera atraída pelo amor, porém, naufragada em um mar de heresias incompatíveis com os meus anseios, que me arrastaram à miserável condição de uma pseudoateísta. Longos e confusos anos!

Foram inúmeros os momentos de alegria nesse período, por certo, com aprendizados inestimáveis. Gratidão poderia ser um dos meus sobrenomes. Todavia, fugazes como uma centelha que escapa da fogueira, lá se iam os estágios dos contentamentos trazidos pelos prazeres, me revelando, aos poucos, o buraco negro que, paulatinamente, me sugava para o imenso vazio no qual submerge toda alma que peleja sem a vital comunhão com o Criador.

É fato que, na interinidade dos meus vazios existenciais recorrentes – na qual Charles Darwin e sua famigerada Teoria da Evolução se constituíram o frágil apoio da minha falsa descrença –, Deus sempre se revelara a essa tola criatura. E é incrível perceber, agora, que Seus cuidados de antes eram tão amáveis quanto os que, há exatamente dois anos, vivencio sob a Sua maravilhosa Graça Especial, e que me levam a chamá-Lo diuturnamente de Pai. Sim, Deus é paciente!

É claro, tudo tem um começo. Ah, os começos! Mário Quintana foi quem melhor descreveu a beleza contida nas novidades cíclicas dos inícios: “belo truque do calendário”, definiu o "imortal". E, enamorada que sou das novidades, confesso que não me canso de ouvir os relatos daqueles que foram chamados das trevas para a maravilhosa luz de Cristo. Como é bom viver essa linda verdade, que ganha uma conotação visceral nos ensinos do impetuoso apóstolo Pedro.

Maior, contudo, do que o prazer de ouvir os testemunhos alheios é a satisfação que sinto em relatar o processo de minha própria conversão. Sempre um evangelismo contundente, o Senhor tem me ensinado. Mudança de planos, de rumos e de sonhos. Eu era cega e, agora, vejo. Literalmente!

“Se não vem pelo amor, vem pela dor.”, dizem. Ouso discordar dessa famosa frase que tanto me desafiou nos idos da minha incredulidade. E sob a licença divina de poder avaliar tudo pela ótica do sacrifício de Cristo, penso: "É sempre pelo Seu maravilhoso amor!". Pois seja na sarjeta dos vícios, no purgatório dos relacionamentos malfadados, na pobreza dos bolsos falidos ou no desfalecimento de uma doença incurável, somente um coração quebrantado pela vontade soberana do Todo-Poderoso é que se dobram os joelhos soberbos; rendidos pela única coisa que pode saciar uma alma que sente fome: o sublime e inefável amor de Deus.

Definitivamente, a Graça é irresistível. E, vai por mim, nem é preciso compreendê-la, em sua plenitude, para se perceber que o chamado efetivo do Rei é irrecusável. Para os mais relutantes em aceitar esse preceito, todavia, aconselho um pouco mais de perseverança, fé e boa vontade, para que encontrem o prometido descanso na soberania do Senhor e se rendam ao fato de que muito do que Ele nos relevou em sua Palavra não é completamente inteligível ao nosso limitado entendimento. Muitas vezes as vistas embaçam. Faz parte. Mas lembre-se de que a iluminação também nos é concedida pela Graça soberana.

E é por isso que, justificada, sigo leve e exultante, pela fé, o honorável exemplo do apóstolo Paulo que, ao avaliar a grandiosidade das revelações que recebera, simplesmente, adorou: “Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?”. Inspirável, não? Busquemos igual fidelidade.

Voltando ao pontapé da minha fé, aquela que realmente salva, quando percebi que se aproximava a minha hora de crer, não pude relutar. Nem mesmo esbocei leve resistência, o que, de cara, concebi que seria um ledo esforço. Até porque, meu coração, afogado nas lágrimas da saudade, só encontrava fôlego rendendo-se aos impulsos, cada vez mais incontroláveis, de amar. Deus me chamava!

Arrancada, finalmente, de sofismas humanistas e soluções científicas detalhadamente esquematizadas, percebi, depois de uma longa e insolente espera, que podia, enfim, entregar meu pesadíssimo fardo nas mãos do único que, acredite, pode e geralmente faz infinitamente mais do que aquilo que pedimos ou pensamos; inclusive em relação ao que não queremos, já que, para o nosso bem, Sua sabedoria é onisciente.

Vou me permitir, desta vez, cometer os desprezíveis deslizes literários dos clichês, por ser esse o primeiro relato do meu espírito agora livre, mas que, outrora, se alimentava das migalhas lançadas pelos vis enganos. Muitas vezes, é bem verdade, seguia ele os dias como o pássaro de Cecília Meireles: “Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem triste: sou poeta”. Lamentável, não?

Sim, Deus é soberano! Inclusive e, sobretudo, nas adversidades. E, na maioria das vezes, é quando estamos ali, encolhidos no redemoinho das nossas elucubrações, e a boca não grita socorro porque a alma não sabe a quem e como pedir, e nos deparamos com a realidade de que a soma de todos os débeis sofismas da nossa razão se revelam menos do que nada, que somos levados a ouvir a doce e inconfundível voz do Salvador. Ele sabe o que faz!

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Ah, Jesus e o apóstolo João, o do amor! Regozijo-me; porque só quem já esteve à deriva é capaz de reconhecer o inestimável valor do resgate.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Celebrando a vida

Há tempos, dizem os sábios que, nessa vida, só conseguimos colher aquilo que plantamos. Pensamento que, automaticamente, nos remete à convicção de que cada um tem sempre aquilo que merece. Bem, é claro que nenhuma verdade é tão plena a ponto de não poder ser refutada, ainda que em pouquíssimos pontos, por argumentos igualmente críveis. Contudo, confesso que não apenas concordo com essas pérolas de sabedoria como as entoo diariamente.

Desde que me entendo por gente, tenho lidado quase que ininterruptamente com meus paradoxos interiores. O que particularmente não deveria me causar qualquer espanto, já que toda a constituição de meu caráter é forjada por traços aparentemente díspares. Sorte que, há tempos, não apenas aprendi a conviver com tais antíteses como, de quebra, creio piamente que eis aí o que me torna uma das peças ímpares dessa sociedade cada vez mais embriagada pelo equívoco de que tudo e todos devem ser exatamente iguais.

Pois que, todas as diferenças estabelecidas entre sentimentos e vontades me trouxeram a este exato momento, no qual me encontro plenamente feliz. Fato importante a ser mencionado aqui é o de que, certamente, ainda não realizei todos os meus sonhos e desejos, o que, para muitos, seria o único motivo para que alguém se encontre em tal estado de espírito. Na verdade, ainda há muitas conquistas a serem colhidas, ao longo dos tortuosos e imprevisíveis caminhos pelos quais tenho seguido meu destino.

No decorrer dessa jornada, muitas lágrimas foram derramadas, de alegria e de tristeza, mas incontáveis sorrisos esboçaram o imenso amor que sinto pela vida; esta que tem me proporcionado momentos inesquecíveis. E é a partir daqui que esse texto começa realmente dizer a que veio.

Este ano surgiu para mim como que de um passe de mágica. E quando falo em magia, refiro-me a essa força misteriosa que, seja pela atuação da física e da química, ou por algo ainda mais sui generis, faz com que coisas fascinantes nos aconteçam a todo tempo, muitas vezes nos levando a crer que o universo é constituído sim, em sua plenitude, do poder de “conspirar” a nosso favor, quando, claro, desejamos algo com muita força de vontade.

Há anos repito que, de alguma forma, tudo o que desejo baseado pelo que nasce em meu coração, sempre se torna real. Há conquistas, inclusive, que de tão demoradas, quando surgem, me surpreendem por não serem mais aguardados com demasiado anseio, ainda que tragam a mesma gama de importância. Outras vêm assim, rápidas e inesperadas, como as paixões.

Todas essas as glórias, à medida que se materializam, me lembram, constantemente, de que sonhar sempre será muito importante, até para que eu nunca me esqueça de que a realização de um sonho é muito, muito melhor do que os doces momentos nos quais me ponho a idealizá-los.

Incrível, por certo, é quando muitos de nossos desejos se concretizam assim, todos de uma vez, como naqueles sonhos em que nos vemos repletos de encanto e beleza; onde tudo é bucólico e parece ter sido criado particularmente pelos desígnios de Morfeu. E é nesse cenário que o ano de 2012 tem desabrochado para mim, desde seus primeiros minutos. Cada um dos dias até aqui vividos têm me convidado pelas manhãs que avisto de minha janela com ares de um jardim de possibilidades.

Hoje, especialmente, minha paradoxal personalidade encontra-se de mãos dadas com o tão almejado equilíbrio estabelecido entre a seara de minhas emoções e as ideias que povoam minha mente. A razão, mais do que nunca, se mostra amiga dos sentimentos e ambos brincam como crianças, nesse indelével parque de diversões que tem se constituído minha vida.

O melhor é que, nesse cenário quase onírico, não há uma falsa ausência de problemas, já que eles, vez ou outra, surgem para dar à minha existência o necessário tom de realidade. E é aí onde reside a grande vantagem de estar em paz consigo e com a humanidade, pois, nesses momentos, a alegria de viver não serve apenas para vermos tudo com olhos benevolentes, mas para focarmos sempre na busca da solução para os percalços que insistem em surgir em nossos caminhos.

E é por tudo isso que, ao entrar no terceiro mês deste ano que, inclusive, é o período no qual celebro a data de meu nascimento, compartilho essa reflexão com aqueles conseguiram trazer essa leitura até os últimos parágrafos deste despretensioso e honesto texto. E ciente, no entanto, de que ainda restam 298 dias para que 2012 entre na lista dos melhores anos de minha vida, ouso festejar diariamente as inúmeras realizações que colhi até aqui.

No dia 23 de março, e nos posteriores, farei uma comemoração interior mais que especial, na qual celebrarei mais do que meus 36 anos de vida. Festejarei com aqueles que amo meus paradoxos e incongruências, que em meio a muitos contratempos e dissabores, têm me permitido sentir verdadeira e plenamente cada fato e pessoa que, direta ou indiretamente, me ajudaram a estar vivendo esta que é, certamente, a melhor fase de minha vida.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Feliz Ano Velho

Nos últimos dias do ano, ouço sempre as mesmas frases; todas girando em torno do tão cantado refrão de uma conhecida música: “Que tudo se realize no ano que vai nascer”. Não entendo o porquê dessa ânsia exagerada de desejar que tudo de bom que não aconteceu nos anos anteriores ou ao longo dos doze meses que se findam aconteça, necessariamente, nos próximos 365 dias.

É como se dissessem sempre, ao fim de todo santo ano, que esse que termina não valeu. Que todas as realizações passadas não foram o bastante para se considerar o ano que se vai como, no mínimo, um ano bom. Daí, escuto: “Que tudo seja diferente no novo ano que se aproxima” e fico inconformada.

Nunca – e quando digo nunca é jamais mesmo – entendi bem esse negócio de festejar a chegada de um novo ano, como se o que se finda tivesse sido um acúmulo de frustrações. Na verdade, o sentimento que me toma é o de comemorar o fim de mais um período no qual pude conquistar um monte de coisas, de ter adquirido uma série de experiências que me proporcionaram ser uma pessoa melhor, mais sábia e mais preparada para todos os outros anos que ainda espero viver.

Talvez, para algumas pessoas, esse tempo medido em meses e dias registrem momentos de sua vida a se esquecer, a lamentar. Talvez, para eles, o ano que se finda tenha sido realmente ruim e, por isso, o ano novo lhes surjam sempre como a promessa de algo melhor. Mas toda época da virada é assim: “Adeus ano velho... Feliz ano novo”. Não concordo! E sob risco de perder a admiração de muitos dos amigos que espero que venham a ler essa tola crônica, afirmo que considero isso como algo triste.

À medida que vejo minha inteligência envelhecer e minha sabedoria ficar lá atrás, nos idos da confusa e rica infância, entendo cada vez menos esse lance de depositar todas as expectativas em cima de um único ano. O que, de certa forma, me permite ensaiar uma parca explicação do motivo pelo qual no mês de dezembro sempre se ouvem muxoxos carregados de insatisfações em relação ao ano que termina.

É fato que as células de nosso corpo, a partir de certo momento de nossas vidas, não ganham mais viço. Pelo contrário, seguem uma das leis mais certas já descritas pela nossa ciência, a da gravidade, e nos lembram, a todo o momento, da realidade nua e crua de que todos os seres vivos deste fascinante planeta nascem, crescem, envelhecem, reproduzem e fatalmente morrem. Não nessa ordem, necessariamente.

Contudo, o tempo, essa inteligente invenção humana, criada para medir a escala de nossa existência e controlar as engrenagens que regem a sociedade equivocadamente controlada pelo homem, simplesmente passa. E com ele, todas as experiências que adquirimos ao longo de nossa, às vezes, mísera vida.

Há, por certo, quem morra velho e, no fim, arraste para o seu jazigo uma mente que, à beira da morte, sentiu-se como se não tivesse vivido o suficiente. Também há os que com uma vida efêmera, deixam esse plano no auge de sua juventude e entram para história, mas também são sepultados com um coração vazio. E, por fim, para encurtar os exemplos, já que esse texto não se trata de uma análise completa baseada no estudo do comportamento humano, há os que são felizes. Eis aí meu tipo preferido de gente.

Não é que as pessoas felizes não tenham problemas, ou que acordem todo santo dia regozijando-se por enxergarem um mundo perfeito. Eles sabem que simplesmente estar nesse mundo não é tudo. Que a vida, de acordo como a forma como é vista, pode nos ser muito cruel, vazia ou infinitamente generosa. Porque tudo depende da forma como desempenhamos nosso papel nesse imenso teatro. Trata-se por certo de como decidimos viver.

Creio que essa gente feliz não chega ao fim do ano corrente ávida pela promessa de um recomeço prometido pelo novo período que se aproxima. Creio que, assim como eu, eles veem o primeiro dia de janeiro como uma incrível possibilidade da continuação de um relógio que nunca finda ao fim do décimo segundo período. Pois tudo se trata do milagre da continuidade, e é ao que celebram.

Não sou contra começos ou recomeços, pelo contrário. Bendito seja o novo. Afinal, tudo tem de ter um início, até para que possa ser melhorado, finalizado ou apenas continuado. Mas, definitivamente, o último dia do ano nunca foi para mim uma oportunidade de fazer tudo diferente, de concretizar todas as ações adiadas há anos. Sempre vi no primeiro dia de janeiro o início de um novo período no qual, felizmente, tenho a oportunidade de continuar a fazer o que tenho feito há anos: ser feliz.

Há alguns anos realizei o sonho de me formar em jornalismo. Ao iniciar efetivamente na profissão, em 2008, comecei a estudar a tão sonhada dança do ventre. Em 2010 consegui um emprego massa pra caramba, que me possibilitou, entre outras conquistas, dar vida a este tão desejado blog. E, ao longo de todo esse tempo, conheci pessoas maravilhosas, das quais muitas tenho o privilégio de ser amiga.

Em 2011 espero poder continuar a conquistar meus objetivos, a tocar meus apaixonantes projetos e, quem sabe, concretizar mais alguns dos meus inúmeros anseios.

Dizem alguns sábios que uma das melhores coisas da vida é ter a oportunidade de começar algo novo. Mário Quintana e sua inquestionável obra que perdoem, mas, para mim, a mágica está, justamente, em poder realizar e dar continuidade aos meus sonhos. O que tenho aprendido ao longo de minha humilde existência é que o bom da vida é poder continuar. E é por isso que celebro com muita alegria poder me despedir de mais um rico ano de vida.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Conto de fadas

É notório o fato de que as figuras imaginárias das fadas exercem um fascínio muito grande nas mentes femininas, sobretudo quando somos crianças. Na tenra idade da vida, cremos não apenas na possibilidade de sua existência como, de certa forma, na probabilidade de sermos um desses seres capazes de espalhar beleza e alegria pelo mundo, influenciando no destino das pessoas. Queremos voar, viajar, visitar, conhecer, explorar e, em meio a essas aventuras, fascinar, encantar.

Bruxa, fada ou outro ser mitologicamente semelhante representam nosso desejo mais íntimo de poder realizar coisas maravilhosas com um simples toque de uma vara mágica, munidos, é claro, pela inabalável crença no poder do pensamento. Esse desejo nos segue anos a fora e, em muitos casos, só vem a nos abandonar muito tempo depois da certeza de que Coelhinho da Páscoa e Papai Noel são apenas fantasias criadas para tornar nossa infância mais feliz. Em muitos casos, no entanto, só aceitamos a imposta realidade de que lindas fadas não passam de fantasia em fase adulta, já avançada.

Mas também é verdade, pasmem, que algumas mulheres, donas de mentes e emoções sensíveis além da conta, ainda crêem em magia de alguma forma, ainda que de um modo muito menos pejorativo; tal qual a fé no príncipe encantado, que mesmo em uma versão moderna e mais individualista, figura-nos como alguém que simplesmente se “encaixe”. E devo confessar, perdoe-me o trocadilho, que nesse grupo me encaixo.

Daí que nesses dias tive um daqueles sonhos com quais geralmente somos contemplados na infância ou, no mais tardar, no fim da adolescência, quando a sinestésica memória do primeiro beijo começa se tornar nada mais do que uma saborosa lembrança. De forma que, até agora, sinto o fervor do privilégio correr-me as veias de todo o corpo, culminando em uma gostosa sensação de alegria. Não me julgues piegas ao ler essas palavras antes de saber do sonho. Pode ser até que o considere demasiadamente pueril, mas vou e devo correr o risco. Corra-o comigo.

Eis que em uma noite dessas, quando me dei conta, percebi que tinha o poder de tornar belo tudo o que tocava. Assim, flores murchas vicejavam, tornando-se lindos buquês perfumados. Objetos rotos tornavam-se novos, atrativos e funcionais. Vendo tudo isso, felizmente, não me sentira como o famoso Midas que transformava em ouro tudo o que tocava, visto que por causa dessa façanha, também experimentara ele a dor por tornar inerte e sem vida aqueles que o cercavam.

Eu, pelo contrário, perdoem-me aqui os beatos de plantão pela oportuna analogia, sentia-me, de certa forma, como o Criador no Gênesis que, ao fim de cada dia,via que aquilo que acabara de conceber era bom. Então, ao longo dos minutos, que nos sonhos se constituem horas, caminhando pela rua deparei-me com meninas a brincarem de pular elástico. Nota: Incrível como nos meus sonhos eu sempre consigo ser tão ruim nessa engenhosa brincadeira como era na infância. Mas essa é outra história, que certamente daria um conteúdo para outro post.

Após o lúdico fracasso, uma das meninas aproximou-se de mim e, de forma angelical e estranhamente íntima, contou-me suas aflições. Com um ar de pedido, disse-me ela estar preocupada com o pai desempregado. Em suas palavras quase súplicas, relatou-me que seu maior desejo era que seu progenitor encontrasse trabalho.

Como se não bastasse dar forma e vida nova às coisas e plantas, sempre movida pela certeza de que tudo dependia única e exclusivamente de minha força de vontade, segurei as mãos da encantadora criança, real e autêntica como a filha que um dia quero ter, e pedi que não se preocupasse. E com a força do meu pensamento desejei, com toda a fé que possuía naquele instante, que seu pai arranjasse emprego. Segundos depois surgiu ele contente, comemorando o fato de estar em atividade remunerada.

Além de feliz, senti-me como se tivesse concluído, com brilhante êxito, a mais importante e significativa tarefa daquela noite. Fechara-a, por certo, com chave de ouro, por conseguir levar alívio e felicidade à saudosa menina. Sim, ela me deixara saudade. Tanto que, após alguns dias, ainda procuro seu rosto em cada criança conhecida ou que eventualmente aparece em meu caminho.

Missão cumprida, sonho findo. Como num conto de fadas, ao abrir os olhos estava em minha cama, acordada e feliz, mesmo após perceber que tudo não passara de um lindo sonho. Ao me dar conta de que os poderes mágicos foram tão somente fruto de uma mente que, à luz da ciência, trabalhara para que meu corpo tivesse descanso, curiosamente, o sentimento que reinava em meu coração não era de desapontamento, mas de alegria. A mesma alegria sentida por alguém que, no nosso plano de existência, esse no qual nos julgamos acordados, contenta-se por ter realizado tantas maravilhas.

Em meio às minhas elucubrações, esfuziantes como a borboleta de Lao Tsé – que o irreverente Raul docemente cantou –, ao invés de tristeza por saber que sonhara, senti-me feliz por ter feito, em tão pouco tempo, tantas coisas boas e belas, ainda que enquanto dormia.