terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Um culto completo




Sempre encontro dificuldade em utilizar palavras suficientemente adequadas para expressar a minha crescente alegria e imensa gratidão a Deus. E dessa vez não é diferente. Ter tido o privilégio de presenciar a cerimônia de batismo de uma grande amiga de infância, cuja intimidade me permitiu vê-la crescer e se tornar mulher, mãe e profissional, na mesma igreja que, há exatamente um ano, me acolheu e me aceitou oficialmente como um de seus membros, é algo que somente esse inefável Deus pode fazer. Ele sabe como nos maravilhar e fazer com que cada um de Seus filhos se sinta especialmente amado por Ele.

“Um filme deve ter passado pela sua cabeça”, questionou-me uma das irmãs, ao término das cerimônias por meio das quais Deus nos edificou profundamente naquela noite. “Você nem imagina!”, respondi, relatando-lhe que, enquanto essa querida amiga professava a sua fé no nosso Salvador e em tudo o que diz respeito ao seu novo nascimento em Cristo, meus olhos foram umedecidos pelas lembranças de toda uma vida, mas principalmente dos últimos 19 meses, nos quais Deus e sua maravilhosa graça salvadora foram o tema central de nossas incansáveis conversas.

Devo ressaltar que, embora a presença do Senhor em nossos cultos seja algo sempre notório para mim, a noite em questão foi um daqueles momentos nos quais o Senhor escolhe se revelar de forma especial à Sua igreja. E assim, vamos combinar, Ele facilita consideravelmente a nossa vida para que toda a honra e toda a glória sejam dadas exclusivamente a Ele. Vi a Sua regência divina na liturgia, no louvor, na ministração da Palavra – particularmente dirigida a crentes de longa data, a recém-convertidos, aos maduros na fé, às crianças espirituais, a simpatizantes e desavisados –, na celebração da Santa Ceia e nas cerimônias do batismo e de profissão de fé. Emocionei-me com cada “sim” professado.

E também confesso que, a cada pergunta feita aos novos membros, acerca das doutrinas essenciais e primordiais da fé cristã, eu também respondia, silenciosamente, e com tudo o que é inerente ao meu ser, com uma positividade ainda mais convicta do que as que proferi, em voz audível, na minha inesquecível vez. Sei como é estar diante de toda uma igreja da qual nossos corações anseiam fazer parte, muitas vezes motivados por respostas de orações dirigidas a um Deus que zela pela Sua Palavra. Foi exatamente assim comigo.

E, mais uma vez, e já não tenho mais como enumerar quantas, o Senhor confirmou, no meu coração e no meu entendimento, a certeza de que Ele me conduziu a uma igreja que, mesmo com as suas imperfeições, inerentes a tudo o que tem a participação de pecadores em processo de santificação, se esmera para trabalhar na obra de Deus conforme nos orienta a Sua Palavra. Isso faz uma diferença muito grande, enquanto buscamos, cada um, no ritmo conduzido pelo próprio Deus, com nossos erros e acertos, fraquezas e dificuldades, crescer na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

A segurança de fazer parte de uma igreja bíblica, e assevero, teologicamente reformada, me impulsiona a buscar continuamente mais conhecimento e a disseminar o que tenho aprendido, falando com convicção acerca do Evangelho àqueles que, assim como muitos de nós outrora, precisam desesperadamente da Vida que só pode ser encontrada em Jesus Cristo.

E ainda que, em muitos momentos dessa jornada, nos sintamos fracos e impotentes, ante a um mundo que, cada vez mais, repudia tudo o que se refere ao único e verdadeiro Deus e tenta incansavelmente abalar a nossa convicção, é na unidade da igreja que somos aperfeiçoados e encontramos o suporte necessário para buscarmos, diariamente, em um relacionamento genuíno com Cristo – por meio da oração, da leitura e estudo da Palavra e com ações de graças –, tudo o que precisamos para seguirmos perseverantes, pela fé salvadora, a corrida que nos é proposta, praticando as boas obras para as quais "Deus, de antemão, preparou para que andássemos nelas".

E da mesma forma que a chuva fertiliza a terra de justificados e de descrentes, Deus, em sua sabedoria soberana, providenciou que cada lágrima incontidamente derramada pela minha linda amiga  amolecesse, inadvertidamente, vários dos corações que ali se encontravam, entre membros e visitantes. E, certamente, a emoção que brotou sincera daquele coração recém-entregue a Jesus Cristo revigorou a fé de todos que, pela graça, têm tido a oportunidade, sempre ímpar, de contemplar o milagre mais impressionante que Deus tem realizado na constituição de Sua Igreja: a conversão daqueles que já nascem predestinados a glorificá-Lo e a usufruir, eternamente, da beleza de Sua natureza infinita.

Considerando todos os acontecimentos aqui sucintamente relatados, acredito, sinceramente, que só há uma palavra capaz de definir a experiência que tivemos naquela noite divina, na qual, como disse um dos nossos líderes, vivenciamos “um culto completo”: amor. O inexplicável amor de Deus!

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Enfim, em casa!



Gosto de tradição! Não como um simples apreço pelo convencional, mas por todo legado que, transmitido por Deus, nos liga a diferentes aspectos de Sua divindade, como a família, por exemplo, cuja essência é geralmente comparada, a grosso-modo, à Santíssima Trindade.

Creio que nunca me esquecerei da sensação de segurança que me envolvia, quando criança, por ter um pai, uma mãe e irmãos. Como era agradável a certeza da ligação biológica denunciada pelas evidências dos mesmos DNAs estampadas nas faces e comportamentos – reconhecimento tão importante no processo de construção da nossa identidade.

Embora, na adolescência, essa fase tão conflituosa de nossa vida, os momentos de alegria se alternassem com os de tristeza, o seio familiar era, para mim, um porto seguro, mesmo quando abalado pelas vicissitudes de nossas personalidades contaminadas pelo pecado que danificou a nossa originalidade.

A caravana dos anos passou e os aprendizados se acumularam, enquanto os cães ladravam. E, na interinidade entre passado e presente, minha mente fervia a procura de respostas para os porquês de nossa frágil e confusa existência. “De onde vim?”, “Para onde vou?”, eu questionava.

E, na intensidade dos anseios, figuravam Jesus e o amor, sentimento que sempre me movia. E, no decorrer dessa jornada, havia uma igreja, de tradição familiar, cuja fé professada por meus progenitores tinha por sobrenome “não praticante”. E nela eu praticava o que ainda era um esboço do que hoje creio, com lágrimas e experiências inesquecivelmente marcantes que, dia após dia, mostraram-se desprovidas do único conhecimento capaz de preencher o vazio inconsciente.

“Vamos ao mundo!” Despediu-se o coração entristecido e ainda esfomeado.  Sócrates, Aristóteles, Platão, Freud... Filosofia e psicologia na veia para remediar as feridas multiplicadas pelas dúvidas que insistiam em não cicatrizar. Machado de Assis, Clarice Lispector, Graciliano Ramos... Ficções genialmente elaboradas para retratar a nossa humanidade moralmente doente, mas igualmente incapazes de elucidar o motivo de tamanha decadência. Ainda as aprecio; não sem moderação, certamente.

Sucessos, conquistas, derrotas e, ufa, o chamado eficaz. Graças à providência pré-estabelecida pelo Soberano, dessa vez, a voz do Todo-Poderoso não era mais um sussurro imperceptível ao entendimento, mas um rugido quebrantador, regenerando o coração com os golpes certeiros do arrependimento salvador. É linda a ação da Graça!

Vida nova; de volta à igreja! Dessa vez, guiada pelo derradeiro Mestre, que tem levado o meu entendimento a navegar pelas águas de uma fé paulatinamente constituída pelas infalíveis revelações contidas nas Sagradas Escrituras. Como sou grata! Até porque, lá estavam, novamente, as velhas dissonâncias entre as maravilhosas lições trazidas pelo Espírito Santo e as reverberações doutrinárias às quais eu estava exposta. Quanta incongruência!

Ah, mas a verdade que liberta só tem uma face, e essa lição aprendi desde cedo. O Deus soberano jamais trará confusão. Mas dependendo de por onde a fé trafega, é grande o risco de se perder pelo caminho da santificação. Há atalhos que supervalorizam determinadas experiências travestidas de dons – que sejam – tornando-as mais importantes do que a imutável e suficiente revelação que nos foi dada por Deus em Sua Palavra.

Ah, as experiências, tão importantes para o fortalecimento da fé quanto sorrateiramente capazes de nos desviar do que realmente nos transforma nos separados do Senhor. “Santifica-os na tua verdade; a tua Palavra é a verdade.”, rogou ao Pai o nosso justificador. Tenho visto que, quanto maior é o entretenimento da mente mais latente é o perigo de o espírito não sair do berçário espiritual. Muitos têm falecido vestidos em fraldas.

“Crescei na graça e no conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo”, exorta o apóstolo Pedro. Incontável, todavia, é o número dos que, na multidão dos que creem, se alimentam, diuturnamente, de doutrinas desprovidas dos nutrientes necessários para que a luz de Jesus, inclusa no farto pacote da graça, viceje e reluza através de suas vidas. O “corpo” de Cristo padece.

E no decorrer dos meses, a grama do vizinho, da qual eu me alimentava desde o princípio, me parecia cada vez mais saborosa e nutricionalmente verde do que a do campo no qual eu me encontrava. Aliás, graças a Deus, a busca pela verdade, nunca antes tão ávida em minha vida, vinha sendo divinamente suprida de forma enviesada. “Quão inescrutáveis são os Seus caminhos!”. O apóstolo Paulo foi um gênio!

Aos pés da Cruz, lágrimas, suor, oração e jejum. “Mostre-me o lugar!”, eu implorava. Aprendi, na prática, o que Tiago define em sua linda carta: Deus não nega sabedoria ao que, com fé, Lhe pede. Aprouve, então, a Deus, capacitar meus olhos para contemplar o caminho pelo qual, há meses, Ele já me conduzia, e me colocar, de forma magistral, como somente Ele pode fazer, no centro do entendimento de Sua maravilhosa graça.

Então ali, em uma igreja tradicionalmente cristã, corpo, alma e coração vivenciam, pela primeira vez em minha vida, a valiosa sensação que é experimentada pelos ombros que, após uma longa e exaustiva viagem, se livram de um peso equivalente a uma tonelada: alívio. “Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”, nos promete o Senhor, que não mente. Agora entendo!

Tradição, neste caso, é sinônima do zelo que o Senhor tem por sua igreja, edificada sob o alicerce de sua Palavra imutável e soberana, a qual ele resguardou por uma reforma realizada com Suas próprias mãos, por meio de homens iluminados, tochas inextinguíveis, que resgataram a sã doutrina das trevas que devoravam a Sua preciosa igreja. Que enredo!

E nisso aprendi que os anseios pelas respostas corretas para os questionamentos de uma alma que tem fome de Deus não podem ser nutridos por dogmas heréticos ou somente por experiências sobrenaturais que, em relação ao crescimento espiritual cristão, se mostram miseravelmente débeis. Isso me remete ao que o meu sábio pastor precisou cirurgicamente: “A teologia reformada é a que melhor define Deus à luz da Bíblia”. Contra fatos não há argumentos.

Hoje, mais confortável, segura e contente do que na época de minha infância, vejo minha identidade em Cristo ser conformada a partir da herança de Seu infinito amor e edificada sob o alicerce de uma doutrina puramente sadia. Um manjar para o meu espírito, no qual me deleito. Pela graça, mais uma vez, fui salva.

Ah, alegria que não cessa! Entendendo agora, de forma cada vez mais clara, o meu velho apreço pelas tradições divinamente instituídas. O significado de lar, no meu coração, ganhou ainda mais apreço, quando, pela graça, fui inserida na imensa família que Deus consagrou com o seu próprio sangue. E, em uma igreja historicamente reformada, tão certa quanto o meu Senhor Jesus Cristo vive, eu finalmente posso comemorar dizendo: “Enfim, em casa!”.