quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O valor do resgate



Deus é soberano! Desconfio, inclusive, que essa é a frase que mais pronunciei nos últimos meses. Ano de eleições, sabe como é. Houve um tempo, no entanto, em que o reconhecimento dessa absoluta verdade se tornou um desejo frustrado; uma busca sincera atraída pelo amor, porém, naufragada em um mar de heresias incompatíveis com os meus anseios, que me arrastaram à miserável condição de uma pseudoateísta. Longos e confusos anos!

Foram inúmeros os momentos de alegria nesse período, por certo, com aprendizados inestimáveis. Gratidão poderia ser um dos meus sobrenomes. Todavia, fugazes como uma centelha que escapa da fogueira, lá se iam os estágios dos contentamentos trazidos pelos prazeres, me revelando, aos poucos, o buraco negro que, paulatinamente, me sugava para o imenso vazio no qual submerge toda alma que peleja sem a vital comunhão com o Criador.

É fato que, na interinidade dos meus vazios existenciais recorrentes – na qual Charles Darwin e sua famigerada Teoria da Evolução se constituíram o frágil apoio da minha falsa descrença –, Deus sempre se revelara a essa tola criatura. E é incrível perceber, agora, que Seus cuidados de antes eram tão amáveis quanto os que, há exatamente dois anos, vivencio sob a Sua maravilhosa Graça Especial, e que me levam a chamá-Lo diuturnamente de Pai. Sim, Deus é paciente!

É claro, tudo tem um começo. Ah, os começos! Mário Quintana foi quem melhor descreveu a beleza contida nas novidades cíclicas dos inícios: “belo truque do calendário”, definiu o "imortal". E, enamorada que sou das novidades, confesso que não me canso de ouvir os relatos daqueles que foram chamados das trevas para a maravilhosa luz de Cristo. Como é bom viver essa linda verdade, que ganha uma conotação visceral nos ensinos do impetuoso apóstolo Pedro.

Maior, contudo, do que o prazer de ouvir os testemunhos alheios é a satisfação que sinto em relatar o processo de minha própria conversão. Sempre um evangelismo contundente, o Senhor tem me ensinado. Mudança de planos, de rumos e de sonhos. Eu era cega e, agora, vejo. Literalmente!

“Se não vem pelo amor, vem pela dor.”, dizem. Ouso discordar dessa famosa frase que tanto me desafiou nos idos da minha incredulidade. E sob a licença divina de poder avaliar tudo pela ótica do sacrifício de Cristo, penso: "É sempre pelo Seu maravilhoso amor!". Pois seja na sarjeta dos vícios, no purgatório dos relacionamentos malfadados, na pobreza dos bolsos falidos ou no desfalecimento de uma doença incurável, somente um coração quebrantado pela vontade soberana do Todo-Poderoso é que se dobram os joelhos soberbos; rendidos pela única coisa que pode saciar uma alma que sente fome: o sublime e inefável amor de Deus.

Definitivamente, a Graça é irresistível. E, vai por mim, nem é preciso compreendê-la, em sua plenitude, para se perceber que o chamado efetivo do Rei é irrecusável. Para os mais relutantes em aceitar esse preceito, todavia, aconselho um pouco mais de perseverança, fé e boa vontade, para que encontrem o prometido descanso na soberania do Senhor e se rendam ao fato de que muito do que Ele nos relevou em sua Palavra não é completamente inteligível ao nosso limitado entendimento. Muitas vezes as vistas embaçam. Faz parte. Mas lembre-se de que a iluminação também nos é concedida pela Graça soberana.

E é por isso que, justificada, sigo leve e exultante, pela fé, o honorável exemplo do apóstolo Paulo que, ao avaliar a grandiosidade das revelações que recebera, simplesmente, adorou: “Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Quem, pois, conheceu a mente do Senhor?”. Inspirável, não? Busquemos igual fidelidade.

Voltando ao pontapé da minha fé, aquela que realmente salva, quando percebi que se aproximava a minha hora de crer, não pude relutar. Nem mesmo esbocei leve resistência, o que, de cara, concebi que seria um ledo esforço. Até porque, meu coração, afogado nas lágrimas da saudade, só encontrava fôlego rendendo-se aos impulsos, cada vez mais incontroláveis, de amar. Deus me chamava!

Arrancada, finalmente, de sofismas humanistas e soluções científicas detalhadamente esquematizadas, percebi, depois de uma longa e insolente espera, que podia, enfim, entregar meu pesadíssimo fardo nas mãos do único que, acredite, pode e geralmente faz infinitamente mais do que aquilo que pedimos ou pensamos; inclusive em relação ao que não queremos, já que, para o nosso bem, Sua sabedoria é onisciente.

Vou me permitir, desta vez, cometer os desprezíveis deslizes literários dos clichês, por ser esse o primeiro relato do meu espírito agora livre, mas que, outrora, se alimentava das migalhas lançadas pelos vis enganos. Muitas vezes, é bem verdade, seguia ele os dias como o pássaro de Cecília Meireles: “Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem triste: sou poeta”. Lamentável, não?

Sim, Deus é soberano! Inclusive e, sobretudo, nas adversidades. E, na maioria das vezes, é quando estamos ali, encolhidos no redemoinho das nossas elucubrações, e a boca não grita socorro porque a alma não sabe a quem e como pedir, e nos deparamos com a realidade de que a soma de todos os débeis sofismas da nossa razão se revelam menos do que nada, que somos levados a ouvir a doce e inconfundível voz do Salvador. Ele sabe o que faz!

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” Ah, Jesus e o apóstolo João, o do amor! Regozijo-me; porque só quem já esteve à deriva é capaz de reconhecer o inestimável valor do resgate.