terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Feliz Ano Velho

Nos últimos dias do ano, ouço sempre as mesmas frases; todas girando em torno do tão cantado refrão de uma conhecida música: “Que tudo se realize no ano que vai nascer”. Não entendo o porquê dessa ânsia exagerada de desejar que tudo de bom que não aconteceu nos anos anteriores ou ao longo dos doze meses que se findam aconteça, necessariamente, nos próximos 365 dias.

É como se dissessem sempre, ao fim de todo santo ano, que esse que termina não valeu. Que todas as realizações passadas não foram o bastante para se considerar o ano que se vai como, no mínimo, um ano bom. Daí, escuto: “Que tudo seja diferente no novo ano que se aproxima” e fico inconformada.

Nunca – e quando digo nunca é jamais mesmo – entendi bem esse negócio de festejar a chegada de um novo ano, como se o que se finda tivesse sido um acúmulo de frustrações. Na verdade, o sentimento que me toma é o de comemorar o fim de mais um período no qual pude conquistar um monte de coisas, de ter adquirido uma série de experiências que me proporcionaram ser uma pessoa melhor, mais sábia e mais preparada para todos os outros anos que ainda espero viver.

Talvez, para algumas pessoas, esse tempo medido em meses e dias registrem momentos de sua vida a se esquecer, a lamentar. Talvez, para eles, o ano que se finda tenha sido realmente ruim e, por isso, o ano novo lhes surjam sempre como a promessa de algo melhor. Mas toda época da virada é assim: “Adeus ano velho... Feliz ano novo”. Não concordo! E sob risco de perder a admiração de muitos dos amigos que espero que venham a ler essa tola crônica, afirmo que considero isso como algo triste.

À medida que vejo minha inteligência envelhecer e minha sabedoria ficar lá atrás, nos idos da confusa e rica infância, entendo cada vez menos esse lance de depositar todas as expectativas em cima de um único ano. O que, de certa forma, me permite ensaiar uma parca explicação do motivo pelo qual no mês de dezembro sempre se ouvem muxoxos carregados de insatisfações em relação ao ano que termina.

É fato que as células de nosso corpo, a partir de certo momento de nossas vidas, não ganham mais viço. Pelo contrário, seguem uma das leis mais certas já descritas pela nossa ciência, a da gravidade, e nos lembram, a todo o momento, da realidade nua e crua de que todos os seres vivos deste fascinante planeta nascem, crescem, envelhecem, reproduzem e fatalmente morrem. Não nessa ordem, necessariamente.

Contudo, o tempo, essa inteligente invenção humana, criada para medir a escala de nossa existência e controlar as engrenagens que regem a sociedade equivocadamente controlada pelo homem, simplesmente passa. E com ele, todas as experiências que adquirimos ao longo de nossa, às vezes, mísera vida.

Há, por certo, quem morra velho e, no fim, arraste para o seu jazigo uma mente que, à beira da morte, sentiu-se como se não tivesse vivido o suficiente. Também há os que com uma vida efêmera, deixam esse plano no auge de sua juventude e entram para história, mas também são sepultados com um coração vazio. E, por fim, para encurtar os exemplos, já que esse texto não se trata de uma análise completa baseada no estudo do comportamento humano, há os que são felizes. Eis aí meu tipo preferido de gente.

Não é que as pessoas felizes não tenham problemas, ou que acordem todo santo dia regozijando-se por enxergarem um mundo perfeito. Eles sabem que simplesmente estar nesse mundo não é tudo. Que a vida, de acordo como a forma como é vista, pode nos ser muito cruel, vazia ou infinitamente generosa. Porque tudo depende da forma como desempenhamos nosso papel nesse imenso teatro. Trata-se por certo de como decidimos viver.

Creio que essa gente feliz não chega ao fim do ano corrente ávida pela promessa de um recomeço prometido pelo novo período que se aproxima. Creio que, assim como eu, eles veem o primeiro dia de janeiro como uma incrível possibilidade da continuação de um relógio que nunca finda ao fim do décimo segundo período. Pois tudo se trata do milagre da continuidade, e é ao que celebram.

Não sou contra começos ou recomeços, pelo contrário. Bendito seja o novo. Afinal, tudo tem de ter um início, até para que possa ser melhorado, finalizado ou apenas continuado. Mas, definitivamente, o último dia do ano nunca foi para mim uma oportunidade de fazer tudo diferente, de concretizar todas as ações adiadas há anos. Sempre vi no primeiro dia de janeiro o início de um novo período no qual, felizmente, tenho a oportunidade de continuar a fazer o que tenho feito há anos: ser feliz.

Há alguns anos realizei o sonho de me formar em jornalismo. Ao iniciar efetivamente na profissão, em 2008, comecei a estudar a tão sonhada dança do ventre. Em 2010 consegui um emprego massa pra caramba, que me possibilitou, entre outras conquistas, dar vida a este tão desejado blog. E, ao longo de todo esse tempo, conheci pessoas maravilhosas, das quais muitas tenho o privilégio de ser amiga.

Em 2011 espero poder continuar a conquistar meus objetivos, a tocar meus apaixonantes projetos e, quem sabe, concretizar mais alguns dos meus inúmeros anseios.

Dizem alguns sábios que uma das melhores coisas da vida é ter a oportunidade de começar algo novo. Mário Quintana e sua inquestionável obra que perdoem, mas, para mim, a mágica está, justamente, em poder realizar e dar continuidade aos meus sonhos. O que tenho aprendido ao longo de minha humilde existência é que o bom da vida é poder continuar. E é por isso que celebro com muita alegria poder me despedir de mais um rico ano de vida.